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A Cirurgia Robótica e o XXXV Congresso Brasileiro de Urologia
24/11/2015
O XXXV Congresso Brasileiro de Urologia aconteceu entre os dias 31 de outubro e 4 de novembro, no Centro de Convenções SulAmérica, no Centro do Rio de Janeiro. O evento contou com a participação de especialistas de diversas partes do mundo, destacando-se os colegas experts em Cirurgia Minimamente Invasiva e Cirurgia Robótica, assunto cada vez mais discutido e de grande interesse nos eventos urológicos.
A programação científica foi muito atual e diversificada, com assuntos de interesse geral na plenária e outras atividades em paralelo, como cursos teóricos e práticos, simpósios satélites e a participação de mais de 4.000 urologistas. Dentre os convidados estrangeiros principais na área de Cirurgia Robótica, destaca-se a participação de Inderbir Gill e Dipen Parekh, que palestraram sobre a crescente utilização da Cirurgia Robótica na Urologia.
Nos últimos anos, presenciamos nos Estados Unidos da América e na Europa uma rápida expansão na utilização do sistema robótico na Urologia. Existem mais de 3.000 sistemas robóticos espalhados pelo mundo. Acredita-se que as explicações para este crescimento, sejam multifatoriais: o grande interesse da comunidade urológica em novas tecnologias, a perspectiva de realizar um procedimento com menor morbidade e publicações disponíveis na literatura, demonstrando excelentes resultados.
História da Cirurgia Robótica:
Nos anos 80, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos iniciou um projeto, a fim de desenvolver um programa de cirurgia remota para campos de guerra. A ideia (semelhante aos aviões não tripulados atuais) foi de substituir médicos por robôs e minimizar as perdas nos conflitos. Desde então, a telecirurgia avançou e, em 1995, a empresa Intuitive Surgical foi fundada e lançou seu primeiro robô cirúrgico, o Da Vinci, no mercado (ano de 2000), para utilização em cirurgias laparoscópicas.
O robô foi sendo adaptado ao longo dos anos e, nos dias atuais, ajuda os cirurgiões a realizar cirurgias minimamente invasivas com suas inúmeras funções e facilidades. Os últimos modelos foram construídos com visão 3D, com qualidade HD e instrumentais cada vez mais modernos e eficientes.
A Urologia é uma das principais especialidades onde essa tecnologia se difundiu. A principal cirurgia responsável por esta difusão foi a Prostatectomia Radical, realizada para tratamento dos homens com câncer de próstata. Devido a glândula próstata ser posicionada na pelve masculina em região de difícil acesso, a cirurgia laparoscópica pura se torna muito difícil e poucos urologista ao redor do mundo se colocaram para realizar tal procedimento. Com o surgimento da Cirurgia Robótica e suas vantagens (descritas a seguir), o procedimento se tornou viável e reprodutível para uma enorme população urológica.
Os benefícios da Cirurgia Robótica:
Diversas são as vantagens oferecidas com o robô Da Vinci:
- Visualização da imagem em alta definição (1080p) com ampliação de 10x e visualização em 3D
- Melhor detalhamento dos planos dos tecidos
- Movimento escalonado com filtração de tremor
- Melhor ergonomia para o cirurgião (console cirúrgico)
- Uso de pequenas incisões
- Retorno mais rápido às atividades diárias
- Menor tempo de hospitalização
- Menor risco de infecção
- Menor perda de sangue e menor taxa de transfusão
- Redução da dor (a maioria dos pacientes não necessita de medicamento para controle da dor após a alta)
Os dois assuntos sobre Cirurgia Robótica mais abordados no XXXV Congresso Brasileiro de Urologia foram a Prostatectomia Radical e a Nefrectomia Parcial. Abordaremos de forma objetiva o que foi atualizado no evento.
A Cirurgia Robótica é, atualmente, o tipo mais comum de cirurgia para o tratamento do câncer de próstata nos Estados Unidos e mais de 90% de todas as Prostatectomias Radicais, são realizadas através deste método.
A Prostatectomia Radical Robótica oferece um enorme benefício, pois remove a glândula através de pequenos cortes com o auxílio de imagem tridimensional e de alta definição. Com este tipo de procedimento, o cirurgião tem uma melhor visualização de toda a anatomia da próstata, facilitando a preservação dos nervos da ereção com o ganho dos benefícios da Cirurgia Minimamente Invasiva.
O principal tema discutido durante o evento, a respeito da cirurgia do câncer de próstata, foram as técnicas de dissecção dos feixes vásculo-nervosos durante a Prostatectomia Radical Robô Assistida (PRRA).
Estas técnicas sofreram modificações ao longo dos anos, com os diversos estudos anatômicos realizados (Patel e cols) que demonstraram a existência de uma artéria prostática capsular, que quando mantida junto ao plexo vásculo-nervoso, resulta em melhores resultados funcionais aos pacientes.
Segundo trabalho recente publicado na revista científica European Urology (Agosto de 2015), Haglind e colaboradores concluíram que os pacientes submetidos à preservação nervosa com a técnica robótica, obtiveram melhores resultados do que os pacientes submetidos à técnica aberta.
O câncer de rim foi outro assunto cirúrgico bastante discutido. Cerca de 70% das lesões renais são malignas e 85% destas são representadas pelo carcinoma de células renais. Uma vez feito o diagnóstico adequado de massa renal, através de tomografia computadorizada ou ressonância nuclear magnética, a diferenciação entre tumores benignos e malignos é imprecisa, e o tratamento cirúrgico é o mais indicado, com raríssimas exceções.
Tradicionalmente, as cirurgias renais eram realizadas através de cirurgia aberta, que requerem uma grande incisão abdominal/lombar, muitas das vezes sendo necessária a remoção de uma costela. A partir da década de 90, a laparoscopia surgiu como uma ótima alternativa minimamente invasiva para as cirurgias renais na Urologia.
Ao longo da última década, ocorreu um aumento da indicação de cirurgias renais parciais (retirada do tumor renal com margem de segurança, mantendo a unidade renal). Esse procedimento é mais complexo e necessita de clampeamento do peídiculo renal para sua realização na maioria das vezes.
Segundo Dr. Parekh, a Nefrectomia Parcial Robótica vem ganhando espaço nos últimos anos, devido a facilitação da sutura intracorpórea, algo de extrema importância para a reconstrução renal após a retirada do tumor.
Dr. Mauricio Rubinstein
Urologia - SOBRACIL