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O pai do CTI

25/05/2020

No primeiro mês da epidemia de poliomielite em Copenhague, em 1952, dos 31 pacientes internados com paralisia respiratória, 27 morreram. Dezenas de novos pacientes eram internados diariamente, e havia na cidade apenas um respirador de tanque e seis respiradores de couraça, os mais modernos equipamentos até então existentes.

Numa época na qual os anestesistas tinham sua função limitada ao centro cirúrgico, Bjorn Ibsen, foi chamado para atender uma criança no Hospital Blegdam. A Capital da Dinamarca estava em estado de sítio.

Os pacientes com insuficiência respiratória eram colocados num caixa metálica – pulmão de aço –, onde apenas sua cabeça ficava para fora. No seu interior era produzida uma alternância ritmada de pressão, que movia a musculatura torácica permitindo a entrada de ar nos pulmões.

Ibsen havia constatado que a morte das vítimas decorria dos pulmões colapsados e repletos de secreção. Contrariando o senso comum, propôs que os pacientes fossem traqueostomizados, para permitir sua ventilação pulmonar com o auxílio de uma bolsa externa ligada a uma fonte de oxigênio.

No ano seguinte, diante de uma plateia de especialistas em Londres, Ibsen fez o relato emocionante de sua primeira paciente, a pequena Vivi Ebert, na época com apenas 12 anos de idade. Se eu estivesse na plateia, o teria aplaudido.

O papel que Ibsen desempenhou na epidemia de pólio foi enorme. Foram cerca de 200 pacientes tratados com seu método, o que envolveu mais de 1.500 médicos e estudantes, que, por mais de 165 mil horas, ficaram ao lado dos pacientes, inflando e desinflando as bolsas com oxigênio, até que eles conseguissem respirar espontaneamente.

Ibsen foi um pioneiro no uso da ventilação invasiva fora do centro cirúrgico. Além disso, ao criar, em abril de 1953, uma enfermaria com 10 leitos exclusiva para pacientes críticos, abriu caminho para a abertura de unidades de tratamento intensivo mundo afora.

Hoje vivemos de forma semelhante a 1952, mas, felizmente, Ibsen fez escola.

Alfredo Guarischi

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