07/01/2019
Estima-se que metade dos pacientes, independentemente do diagnóstico, busque ajuda a alguma modalidade de medicina complementar alternativa. Nos EUA, observa-se o aumento do número de pacientes com câncer que procuram fitoterapia, massagem, megavitaminas ou cura energética, sabidamente ineficazes quando comparadas com tratamentos médicos tradicionais. A quantidade de pacientes que pagam de seu próprio bolso por essas alternativas, excede o total de visitas a todos os médicos de cuidados primários.
No Brasil, o atual e moribundo Ministério da Saúde, desde maio de 2018, assumiu o pagamento pelas chamadas práticas integrativas e complementares, como apiterapia, aromaterapia, cromoterapia, imposição de mãos e ozonioterapia. O pagamento do combalido SUS. A falta de atendimento adequado, desde o diagnóstico precoce até o tratamento eficaz, é diariamente noticiada, e quem consegue ser atendido pelo oncologista frequentemente pergunta: “Tem cura?” O que pode ser feito além do bisturi, medicamento ou irradiação?
Diante da incapacidade científica, algumas vezes confundida com incapacidade de solidariedade do médico, o paciente ou seus familiares buscam alternativas. Os médicos não estão imunes ao câncer e podem eles mesmos ter dificuldades em lidar com a doença.
É sabido que grande parte dos pacientes procura recursos terapêuticos que não relata ao seu médico. As razões são diversas: “Esse médico jamais entenderia como isso é importante”, “se bem não fizer, também não fará mal”, ou “preciso tentar de tudo”. O médico que já foi paciente ou cuidou de um amigo próximo ou familiar entenderá bem essa situação raramente ensinada na faculdade.
Um estudo publicado pela Revista de Oncologia da Associação Médica Americana, no qual foram avaliados quase 2 milhões de pacientes, demonstrou que aproximadamente dois terços dos pacientes com câncer, acreditam que a medicina alternativa prolonga a vida, e um terço espera que ela os cure. Os pacientes que se utilizam de medicina alternativa estão mais propensos a recusar ou adiar os tratamentos convencionais, como cirurgia, quimioterapia ou radioterapia.
O crescimento da indústria multibilionária da medicina complementar alternativa tem sido atribuído à sua maior comercialização. Basta ligar a TV, ler jornais ou ouvir rádio para avaliar o quando é investido em seu marketing, mas a falta de diálogo do especialista em abordar diretamente o tema e a congruência com crenças, valores e filosofias dos pacientes contribuem para inflar essa indústria inconsequente e de charlatões.
Do mesmo modo que a “fast-food” obstrui coronárias, a “fast-health” – quando o médico não examina o paciente com o devido carinho - obstrui a magia do toque e da esperança. Não há a menor dúvida do efeito benéfico do afeto e do acolhimento que a medicina clássica não pode delegar.
Alfredo Guarischi