26/12/2017
Mais uma noite de 31 de dezembro juntos.
Será um momento de união. As luzes criarão imagens incríveis. O som não vai agradar a todos, pelo barulho excessivo ou pelo silêncio profundo que volta e meia vai ocorrer. Sim, em alguns momentos, ficaremos sem o que falar. Teremos soluços. Choraremos. Faz parte.
Ficaremos molhados se chover na incessante ida e vinda da rua ao salão principal. Jamais usamos guarda-chuva.
Se fizer frio, não será um grande problema, pois estaremos sempre nos movimentando; mas, se estiver quente, como o salão estará lotado, novamente o ar refrigerado não dará conta.
(Desculpe, caro leitor, estou escrevendo sobre o plantão do Ano Novo.)
Sei que alguns não terão como chegar. Muitos continuam sem receber o salário, e quem puder ajude trazendo esse colega para o plantão nas emergências da cidade, hoje maravilhosa apenas pela natureza.
A turma da limpeza será a mais sacrificada. O pessoal da cozinha organizará alguma coisa para os que puderem comer. O álcool como sempre estará liberado, para assepsia... Lembro de numa dessas noites, quando começava a fazer a assepsia com álcool iodado antes de operar, alguém comentou: “Esse álcool parece um destilado de 15 anos!”
A turma de estetoscópio será importante, mas, sem os eletricistas, maqueiros, porteiros, administrativos, motoristas, técnicos, enfim, uma equipe, nada vai funcionar.
Muitas dessas noites são marcadas pela dor. Eu jamais esquecerei o naufrágio do Bateau Mouche, quando perdi meu tio, nem dos inúmeros feridos que atendi atingidos por fogos na Praia de Copacabana.
Mas a vida tem que seguir, e a maior felicidade é mandar um forte abraço, em nome de toda a equipe, para o Antônio, que está bem agora, e para a Maria, que, apesar de tudo, vai comemorar a chegada de mais uma neta. No entanto, não nos esquecemos dos outros Antônios e Marias que não conseguimos salvar.
Continuaremos a fazer aquilo de que mais gostamos: cuidar de pessoas. Não estamos sozinhos. Em toda a cidade, há gente zelosa, como a maioria de nossos policiais, bombeiros, lixeiros, garçons, músicos, eletricistas e um enorme número de trabalhadores que têm somente um mês de férias, nenhum penduricalho, sem direito a apartamento funcional ou plano de saúde sem limite de gastos.
Mas poderemos fazer um final de ano diferente em 2018. Em vez de, no Natal, darmos votos de felicidades e pulseiras coloridas, poderemos, nas próximas eleições, dar votos para os fichas-limpas e exigir algemas para os corruptos, pois o que nos acontece de mal com a educação, a segurança e a saúde decorre principalmente das ações de políticos vigaristas.
Plantonistas em todos - todos - os setores da cidade, façamos nosso melhor.
Vale a pena ser honesto. Adsumus!
Alfredo Guarischi