06/11/2017
Tratamentos novos, computadorizados, medicamentos específicos e robôs não seriam tão divulgados se não funcionassem, certo? Pesquisadores de renomadas universidade norte-americanas publicaram na Mayo Clinic Proceedings uma extensa revisão sobre o tema.
A resposta? Nem sempre o novo é o melhor!
A revisão de três centenas de publicações entre 2001 e 2010, na mais prestigiosa revista médica mundial, o New England Journal of Medicine, concluiu que alguns procedimentos baseiam-se em evidências que são contestadas ao longo do tempo e mesmo assim continuam sendo praticados por anos.
Um terço dos artigos originais eram sobre tratamentos estabelecidos, sendo alarmante constatar que dois terços desses estudos recomendavam a descontinuidade dessas práticas, como o uso intensivo de drogas para baixar a pressão arterial, certas cirurgias de meniscos ou medicamentos contra o câncer de próstata e, com destaque, o uso exagerado de stents em coronárias. Vários estudos na última década demonstraram que os stents não previnem infarto ou morte em pacientes estáveis.
Por que então alguns insistem na colocação de stents “na maioria dos casos”?
A "heurística da disponibilidade", termo cunhado pelos psicólogos Amos Tversky e Daniel Kahneman, explica o motivo de uma decisão importante ser influenciada por uma experiência vivenciada, principalmente se foi dramática. O cardiologista Eric Topol cunhou o termo "reflexo oculoestenótico" - óculo para ‘olho’ e estenótico para ‘estreito’. Nele há "[...] uma tentação irresistível [...] em colocar um stent sempre que veem uma artéria estreitada [...]”, mesmo sendo essa constatação isoladamente não fundamental. Essa decisão é chamada de bioplausibilidade - intuição que a conduta escolhida deve funcionar. Entre nós o Dr. Luis Cláudio Correia, aqui pertinho, em Salvador, em 2014 já ensinava: “[...] o quadro clínico representa a verdadeira avaliação funcional do paciente [...]”.
Encontrar o equilíbrio entre inovação e regulação é difícil, pois rotinas consagradas, mesmo diante de evidências contrárias, tendem a persistir. A judicialização é um agravante.
A medicina é rápida em adotar práticas baseadas em evidência “instável”, mas lenta em abandoná-las. Revistas científicas e meios de comunicação tendem a priorizar a divulgação de algum novo tratamento; recompensam a descoberta e desprezam a replicação (o processo de retestar descobertas para se certificar se são válidas ou foram verdades passageiras). Quanto menos se publicam pesquisas nas quais o tratamento avaliado não funcionou como esperado, mais perpetuamos práticas pouco eficazes.
Não duvide o quanto foi proporcionado pelos avanços tecnológicos e novos medicamentos, porém esclareça com seu médico o que é mais indicado para o seu problema e não se iluda com o que há de novo.
A escolha com sabedoria sugere que o quanto menos talvez seja o melhor.
Alfredo Guarischi