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A Eterna Vigilância em Saúde

26/06/2017

Nos EUA o emprego para profissionais de saúde deve crescer 19% nos próximos anos, mais do que qualquer outra atividade. Porém, o sistema de saúde norte-americano, o mais custoso do mundo, continuará sendo um modelo ilusório com milhões de habitantes (9% da população) sem assistência médica. Outras nações desenvolvidas, como Reino Unido, França e Suécia, têm sistemas mais justos, com a metade do custo do americano.

As causas são diversas, mas estudos publicados no Journal of American Medical Association e no British Medical Journal denunciam as obscuras relações financeiras entre profissionais de saúde e as poderosas empresas farmacêuticas e de equipamentos médicos, que propiciam situações potencialmente problemáticas.

Em geral, pesquisadores remunerados pela indústria relatam 3,5 vezes mais resultados positivos, comparados com os que não são financiados por ela. Quando a empresa patrocina o estudo e também remunera os pesquisadores, chega a ser cinco vezes maior a probabilidade de o estudo apresentar um resultado positivo. Incrível!

Nesse contexto, foram criadas nos EUA organizações não governamentais (ONGs) sem fins lucrativos, para defesa dos pacientes através do aconselhamento, luta por maior acessibilidade a novos tratamentos e ao combate do aumento abusivo nos custos em saúde.

Pois bem, o New England Journal of Medicine publicou recentemente um grande estudo no qual mais de 80% dessas ONGs relataram aceitar o financiamento de empresas farmacêuticas e de equipamentos médicos, sem a transparência necessária sobre a natureza desses relacionamentos. Executivos dessas indústrias ocupam os conselhos de administração de quase 40% dessas organizações, algumas com metade de sua renda anual vindo desses financiamentos, mas negam veementemente conflito de interesses.

O que parece paradoxal - indústria patrocinando associações de defesa do consumidor - nada mais é do que um engenhoso artifício: o governo é um dos maiores compradores dessas indústrias, que têm interesse na venda de produtos novos e patentes com maior prazo de validade. Pacientes iludidos dão o necessário aval para se exigir a compra desses produtos, mesmo na ausência de estudos de longo prazo sobre o seu real benefício.

O direito a saúde é inalienável, mas é necessário que a gestão do sistema de saúde seja profissional, que não exclua os aspectos sociais e que tenha metas de longo prazo estabelecidas pelo Estado e não por um partido político ou governo - sempre transitórios.

O que ocorre nos EUA e foi denunciado pelo New York Times, repercutindo os artigos científicos citados, mostra a gravidade do problema. Pesquisas e pesquisadores financiados pela indústria deram e continuarão contribuindo para a melhoria do sistema de saúde, porém há a necessidade de ética e transparência nesses relacionamentos.

Como escreveu Thomas Jefferson (1743 -1826): “O preço da liberdade é a eterna vigilância.”

Alfredo Guarischi


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