06/03/2017
Em 1974 o título de um editorial do British Medical Journal (BMJ) era: “Antibióticos e Agricultores”. O texto dizia: “No início da década de 1950, eram administrados antibióticos em baixa dosagem para aumentar a taxa de crescimento de suínos, aves e bezerros, para serem engordados mais rapidamente e a um custo menor. Com isso, houve aumento da produção de proteínas animais para consumo e mais lucro na cadeia produtiva. Na mesma década tornou-se evidente o uso abusivo de antibióticos em humanos, menos de 10 anos após a descoberta da penicilina. Muitos microrganismos mortos ou inibidos por doses contínuas de antibióticos tornaram-se resistentes. Novos antibióticos foram desenvolvidos e o ciclo continuou. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a resistência bacteriana como uma modificação que permite que as bactérias tolerem progressivamente uma determinada classe de antibiótico, produzindo enzimas inativadoras e criando sepas resistentes. Várias autoridades previram o efeito prejudicial dessa forma perniciosa de tratamento e pediram a moderação dos interesses comerciais, bem como não transformar numa panacéia o uso de antibióticos.”
A OMS publicou, em 17 de fevereiro de 2017, a sua primeira lista de "agentes patogênicos prioritários" resistentes aos antibióticos - um catálogo de 12 famílias de bactérias que representam maior ameaça para a saúde humana.
A resistência antimicrobiana ameaça a prevenção e o tratamento eficaz de uma gama cada vez maior de infecções causadas por bactérias, parasitas e fungos. É uma ameaça cada vez maior à saúde pública global e requer ação de todos os setores dos governos e sociedades. Sem antibióticos eficazes, haverá comprometimento no resultado em grandes cirurgias e da quimioterapia contra o câncer. Além disso, o custo dos cuidados de saúde com os portadores de infecções resistentes é mais elevado.
No mundo, todos os anos, aproximadamente meio milhão de pessoas desenvolvem tuberculose multirresistente, complicando também a luta contra o HIV.
Como enfrentar o problema?
A prevenção é o mais adequado, porém envolve políticas sociais não demagógicas e levam muito mais tempo em países corrompidos pela corrupção. Portanto, é urgente regras rígidas para o uso adequado em seres humanos e animais dos antibióticos existentes, pois há mais de 30 anos não era desenvolvida uma nova classe de antibiótico. O uso racional, diferente do que foi feito no passado, é fundamental para quaisquer novo antibiótico que seja desenvolvido no futuro.
A recomendação de todos os infectologistas é de não fazer uso de qualquer tipo de antibiótico, se não houver uma precisa indicação médica.
Em 1950, o sonho de combater as infecções com inteligência começou a ruir. Em 1974, o BMJ alertava enfaticamente o que viria adiante. Agora, a OMS mostra que 12 microrganismos ameaçam os 8 bilhões de habitandes da Terra.
Já passou da hora do não discutirmos antibióticos, agricultura e o papel dos legisladores.
Alfredo Guarischi