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Hodgkin, do Linfoma ao Humanismo

24/04/2017

Thomas Hodgkin (1798-1866), médico inglês, fez a mais instigante descrição do linfoma, uma das muitas doenças que atingem o sistema linfático. Pioneiro, descreveu a insuficiência aórtica, cinco anos antes de Corigan; as complicações da apendicite, 50 anos antes de Fitz; distúrbios arterioscleróticos e a cardiomiopatia alcoólica. Defendia o ensino médico prático (residência médica).

Independente financeiramente aos 21 anos de idade devido a uma herança, permaneceu altruísta, seu traço marcante. Rejeitado em Oxford e Cambridge por ser da religião quaker - de origem protestante, sem organização clerical clássica , formou-se em Edimburgo. Na Europa, aprendeu a usar o estetoscópio com seu inventor, Laënnec, sendo menosprezado ao demonstrar esse avanço francês em Londres; mas assumiu a responsabilidade pelo Anatomy Museum e pelas necropsias do famoso Guy’s Hospital, em 1826.

Em 1832, publicou o artigo http://digitalcommons.ohsu.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1221&context=hca-cac especulando a origem das alterações no baço e em linfonodos - “glândulas absorventes” - em sete pacientes necropsiados (sendo duas crianças), afirmando que seus achados foram provavelmente familiares a muitos “anatomistas mórbidos experientes” (médicos patologistas).

Seu trabalho foi apresentado a uma platéia desinteressada na Medical and Chirurgical Society por outro médico, pois Hodgkin não era membro da instituição. Alertado sobre o relato do caso de uma jovem com linfonodos e baço aumentados, feito em 1666 por Malpighi, Hodgkin, honesto e humilde, incluiu a descrição do médico italiano no seu artigo impresso. Hodgkin inovou ao sugerir uma nova “afecção primária”. Não usou microscópios, imperfeitos à época. Preterido no Guy’s Hospital, abandonou a vida acadêmica.

Seu reconhecimento científico ocorreu após sua morte. Wilks, em 1865, escreveu que “Hodgkin, foi o primeiro a chamar a atenção para essa doença peculiar”. Em 1877 e 1909, em artigos subsequentes, Wilks reafirmou a primazia. Fox, em 1926, examinou ao microscópio esses casos, confirmando que quatro eram de linfoma, e os restantes, tuberculose e sífilis. Mesmo hoje, o diagnóstico de linfoma nem sempre é simples.

Hodgkin criticou as condições sanitárias de Londres, o trabalho infantil e a insalubridade na indústria do carvão.

Atuou contra a opressão aos índios americanos, aos negros e a religiões; defendeu a medicina preventiva e a vacinação contra a varíola; fundou a University of London e a Aborigine’s Protection Society, foi líder da Royal Geographical Society.

Morreu de cólera na Terra Sagrada e está enterrado no antigo cemitério anglicano de Jaffa, Israel. Na lápide, lê-se "Humani nihil a se alienum putabit" (‘Nada a respeito do homem era indiferente para ele’ – em tradução livre), frase semelhante à escrita em 163aC por Terêncio, ex-escravo e dramaturgo romano.

Em 185 anos, a melhoria na sobrevida e na qualidade de vida dos portadores de linfoma alenta a todos, mas a humanidade avança lentamente nas antigas questões que moviam Hodgkin.

Alfredo Guarischi


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